Criadas em um morro sem saneamento básico, luz precária, chão de terra batida em seus barracos de zinco, e sem água encanada. Nas bicas públicas para lavarem suas roupas e também a das madames que o digam.
Chega o carnaval. É hora de virar rainha e deixar pra trás a empregada doméstica, ou a lavadeira. Sim porque naquele dia de desfile elas são rainhas, quando milhares de pessoas aplaudindo as tornam estrelas de primeira grandeza. Uma plateia que lota as arquibancadas de ferro montadas para este fim. Sim Mangueira, quando o verde encontra o rosa toda preta é rainha. É o dia delas, no carnaval não sofrem discriminação, vem das arquibancadas, muitos gritos.
Acaba o carnaval, volta tudo ao normal, já não são mais rainhas e o verde já não encontra o rosa. Passou o tempo, novas gerações, estamos agora no século 21, ano de 2022. Já não se tem mais lavadeiras, empregadas domésticas hoje são secretárias. Hoje, o morro é comunidades e as pretas do local se aprimoram com o estudo ou com diversas profissões. Não se tem mais arquibancadas de ferro que levava tempo para montar e desmontar, atrapalhando o trânsito da cidade.
Não tem mais variação de local de desfile como antes, ora na Praça Onze que acabou, ora na Avenida Rio Branco, ora na Avenida Presidente Vargas. Acabou isso, as arquibancadas são definitivas e de concreto, tem local de desfile definitivo, o Sambódromo na Avenida Marquês de Sapucaí. A classe média invadiu as escolas de samba e está hoje em desfile é um evento comercial e não mais um evento cultural.
Mas a preta quando o verde encontra o rosa sempre será rainha. Seja ela médica, professora, economista, psicóloga ou advogada. O enredo da MANGUEIRA para 2023 promete. As Áfricas que a Bahia canta e aonde mais do que nunca a negritude vai se mostrar com bastante alegria em um legado deixado pelos seus ancestrais. As mulheres pretas vão brilhar no desfile da Escola de Samba mais famosa do planeta.
Por: Onésio Meirelles (Sambista/escritor)
RJ, dezembro de 2022